Este estudo constitui a resposta à solicitação de várias partes amigas no país e no estrangeiro interessadas em saber se há ou não relação, nem que seja tão-só simbólica, entre a actual Franco-Maçonaria e a antiga Ordem do Templo, e nesse sentido responderei o melhor que puder mas cingindo-me exclusivamente à Tradição Iniciática das Idades na sua vertente TEOSOFIA/TEURGIA que aqui me traz, pelo que me restrinjo exclusivamente a essa cuja resposta afirmativa é a de ser muito indirecta a relação antigo Templo – moderna Maçonaria, e a que existe é muitíssimo diferente das pretensões usais em voga nos meios maçónicos.

Dos 33 Graus Simbólicos que constituem a Maçonaria Escocesa (Rito Escocês Antigo e Aceito), as funções dos 3 últimos resumem todos os anteriores, tal como o 30.º resume os posteriores. Com efeito, o 31.º Grau tem a função de manter a regularidade da acção social maçónica, ou seja, de inspeccionar sobre o exercício restrito dos landmarks ou “regras” por parte das Lojas junto do mundo profano; o 32.º Grau assegura a regularidade do “Real Segredo” no interior das Lojas, isto é, assegura a manutenção ou obediência ao Rito prescrito conforme a Constituição Geral; por fim, o 33.º Grau constitui o Supremo Tribunal ou cúpula da Ordem Maçónica assegurando a boa ordem dos trabalhos das Lojas para o mundo profano, e a boa ordem dos trabalhos no interior das Lojas e entre elas. Só o Grande Inspector Geral do 33.º Grau é quem pode decidir, dar a “última palavra” sobre as decisões das Lojas acerca do que se passa fora ou dentro delas, nisto, por exemplo, sobre a aceitação de novos membros no seio da Fraternidade, ou então a erradicação, a expulsão daqueles que por palavras e actos tenham provado ser indignos dela ao lesá-la moral e fisicamente.

O 30.º Grau do Grão-Eleito Cavaleiro Kadosh ou Cavaleiro da Águia Branca e Negra é exactamente o dos Ritos, o da legislação e manutenção dos Ritos, que os posteriores 3 últimos Graus, constituindo o “Tribunal Maçónico”, em princípio aprovam o seu exercício nas Lojas. Os Kadosh são, pois, os “Templários” da Maçonaria.

Isso vai bem, encaixa perfeitamente com a sua tradição, tema que aqui me traz, repito, após solicitado várias vezes para o desenvolver por parte de amigos e conhecidos correlacionados a essa corrente reconhecida da Tradição Iniciática das Idades.

Sendo “corrente reconhecida” pelos Superiores Incógnitos da mesma Maçonaria, ou sejam os 49 Adeptos Independentes da Grande Loja Branca, então esses quatro últimos Graus do Escocismo, e mais um quinto, correlacionam-se da seguinte maneira à cúpula directiva da Excelsa Hierarquia Planetária:

É, pois, no Grau Kadosh que todos os Graus posteriores e anteriores do Escocismo se encontram. Será por isso que a sua divisa é Nec Plus Ultra, “Nada mais além”. De facto, não há nada mais além senão a Lei do Eterno, incarnada pelo Manu (Vaisvasvata) junto da Hierarquia Planetária, o que veio a derivar nas leis ou landmarks do Código Maçónico destinadas a fazer do Maçom sobretudo um Obreiro justo e perfeito de um novo Edifício Humano, isto é, de uma Sociedade Humana em que a Concórdia Universal reine finalmente no seio dos povos. Com isso terá a ver a legenda da bandeira do 30.º Grau – Ordo Ab Chao, “A Ordem saída do Caos”. O que me levou a proferir anteriormente (in Dogma e Ritual da Igreja e da Maçonaria, Editora Dinapress, Lisboa, Setembro 2002, p. 131):

“Nos Graus Filosóficos (19.º ao 30.º) da Maçonaria Escocesa, sob o patronímico do Kadosh (do hebraico, “Santo, Consagrado”), este o “Cavaleiro da Águia Branca e Negra”, logo, bicéfala ou andrógina, ele expressa ocultamente o Kadoshim ou o Construtor Encapuçado (Adepto Real) de Kaleb, sendo altamente iniciático o lema Kadosh: Ordo Ab Chao, “A Ordem saída do Caos”. Nesse caso, é o Caos antecedendo o Cosmos, que é dizer, a Treva (Arcano XVIII, “A Lua” – Cor Negra do Grau) donde haverá de sair a Luz (Arcano XIX, “O Sol” – Cor Branca, antes, Vermelha do Grau), ou por outra, o Pralaya antecedendo o Manvantara, o Repouso Cósmico antes da Actividade Universal. Mas como muitos elementos dessa Agremiação persistem em permanecer lunares, apásicos ou apáticos à Grande Luz (Maha Sun ou Maçonaria, em interpretação livre), convir-lhes-á antes: Chao Ab Ordo – “O Caos saído da Ordem”… Tudo pela Anarquia, nada pela Sinarquia? NÃO! Antes, ORDO AB CHAO… TUDO PELA SINARQUIA, NADA PELA ANARQUIA!”

De maneira que os Kadosh estão presentes no escrínio de todas as Ordens Iniciáticas e Secretas, como legítimos mantenedores da parte Sacerdotal ou Templária das mesmas, dando forma ao Plano Subjectivo (“Espaço Sem Limites”) e subjectivando o Plano Objectivo (“Espaço Com Limites”) por meio da mecânica sublime do Ritual.

Como “Consagrados, Santos, Puros” (em hebraico Kad-osh-shin, que deu em Ka-do-che originando Kadosh), não deixam assim de expressar simbolicamente, mas na origem o foram realmente, os “Irmãos de Pureza”, esses encobertos transhimalaios Bhante-Jauls que são os Adeptos Perfeitos da Excelsa Loja Branca, havendo uma parte deles, “os discípulos dos B. J.”, tombado tragicamente no fracasso da Iniciação Real durante três Tragédias consecutivas rematadas numa quarta (Gólgota – Tibete – França… Lisboa, Rua Augusta), como repercussão da original Tragédia Atlante em que eles se tornaram, realmente, “Filhos da Viúva”, isto é, cosmogonicamente a Terra separada pelos densos véus da Maya lunar, do influxo espiritual directo do Sol, o que coincidiu com o início da Kali-Yuga, “Idade Sombria”, e a “viuvez” da Alma da Terra do seu Espírito Universal; antropogonicamente e recuando aos dias finais da Atlântida, os Kadosh que antes eram Príncipes Sabaoth porque de origem Sedote ou Badagas (“frutos proibidos” da união sexual ilícita dos deuses com as filhas dos homens, o que está descrito no Genesis bíblico e também alegorizado na lenda medieval de Melusina), parte deles, instigados por ALUZBEL, o “Arcanjo Revoltado”, revoltou-se contra a LEI estabelecida pelo MANU (Chakshusa) da 4.ª Raça-Mãe Atlante e aliou-se aos Assuras revoltados, que também eles o eram, indo assaltar a 5.ª Cidade e Capital desse Continente, o que resultou na morte do seu Rei, MU-ISKA, e VIÚVEZ da sua Rainha, MU-ÍSIS, perecendo também o Filho de ambos, RA-MU. Desde então, os Kadosh derrotados (777) portam o epíteto funesto de “Filhos da Viúva”, que lhes foi imposto por outros Kadosh vencedores (111), ou os que, “contra ventos e marés”, permaneceram fiéis à Lei, acompanhando os seus Mestres Sabaoth (“Guerreiros Divinos”, donde Jeohvah-Sabaoth ou Zabaoth, “Exército de Deus”) ao escrínio lapidar dos Mundos Subterrâneos, a Badagas, onde desde então passaram a viver, conservando consigo ciosamente toda a “Ciência Divina” ou Proibida à Humanidade vulgar. Para trás ficou uma Raça e um Continente em estertores mortais sob os vagalhões carrascos das ideias animalescas e das paixões nabalescas…

Se a História profana pouco sabe disto, a verdade é que a História Iniciática conhece isso muito bem isso e muito mais ainda… por deter o acesso a fontes que àquela estão vedadas, por ser originária de profanos.

Deverei, após tudo, adiantar que a Raça Atlante recebeu a Redenção Divina em 4 de Outubro de 1937 por parte de quem de direito, ou seja, pelo Excelso Sexto Luzeiro AKBEL no seu Avatara HENRIQUE JOSÉ DE SOUZA, ficando esse Karma Racial resolvido de vez (ainda que os seus “ecos funestos” se prolonguem por mais algum tempo), e algum tempo depois os “discípulos dos Bhante-Jauls” (“a esperança do Traixu-Lama”, no dizer da insigne Helena Petrovna Blavatsky) também obtiveram a sua Redenção ou Triunfo final (“Vitória do Trono de Deus”) às zero horas de 23 de Março de 1963, graças aos inauditos esforços sacrificiais do mesmo Luzeiro de Amor nessa hora dando por findados milénios e milénios de sacrifícios pessoais a favor da sua Corte, a favor, também, da Humanidade.

De maneira que os verdadeiros Kadosh – cerne da Maçonaria Negra ou Oculta por serem os mesmos Superiores Incógnitos – são a Ala Instrutiva (ESCOLA) e Sacerdotal (TEMPLO) da Maçonaria Universal Construtiva dos Três Mundos disseminada estrategicamente pelo Mundo (TEATRO), estando organizada em 22 Templos e 33 Ordens Iniciáticas Secretas das quais está na cúspide das mesmas, ou seja, no Norte da Índia (Srinagar) como Confraria dos Traixus-Marutas, assim mesmo mantendo uma especial ligação Jina e Jiva, Supra-Humana e Humana, ao 17.º Templo Universal de Sintra e à 13.ª Ordem Encoberta mas Soberana de Mariz (fundada por 12 Kadosh em volta dum 13.º… tal como aconteceu com a Ordem dos Templários, com 9 Kadosh e mais o “Ancião da Montanha” com a sua Contraparte Feminina e suas Duas Colunas Vivas; o mesmo sucedeu antes no Tabernáculo do Deserto e depois no Templo de Salomão, entre os hebreus).

Historicamente e tratando-se de Ordens Ocultas, Maçónicas, e atendendo a que todas as Ordens Iniciáticas Secretas são de origem Humana, a começar pelas interiorizadas como “formigueiros de Adeptos Humanos”, elas são representadas em quatro fases (correspondendo a iguais períodos da Terra, ainda assim reflectidos nos 33 Graus do Escocismo). Vejamos como:

1.ª) O Ciclo Maçónico teve o seu início aquando da construção do Templo de Salomão, logo, numa fase tipicamente hebraica e daí a origem dos Kadosh nesse período, que já se sabe ser muito anterior, mais profunda e mais ampla.

Esta fase corresponde aos Graus 1 a 14, o que equivale a dizer: o valor das 14 Hierarquias Criadoras, divididas em dois grupos de 7 – Hierarquia do Raio Divino e Hierarquia do Raio Primordial. Por isso, o Arcano 14 leva o sentido iniciático de “Perfeito Equilíbrio”.

2.ª) A Filosofia Cristã, baseada no Ciclo do Ocidente, na respectiva Era cristã. A Maçonaria funcionando como cobertura da Nova Civilização. Por isso as cidades tradicionais do ciclo cristão têm os nomes de Belém (Nascimento do Cristo) e Jerusalém (Morte do Cristo), ou sejam as possuídas das iniciais das duas Colunas do Templo de Salomão: Bohaz (“Rigor”) ou Bhakti (“Devoção”), e Jakin ou Jnana, ambos os termos, hebraico e védico, com o sentido de “Conhecimento”. Consequentemente, Amor e Sabedoria é quanto se deve possuir para poder penetrar o escrínio do Templo, o “Santo dos Santos” (Sanctum Sanctorum) onde mora a Lei, o Manu, a manifestação real do 1.º Raio Divino sob a forma de Shekinah.

Este período corresponde aos Graus 17 e 18, sim, à fusão do Oriente com o Ocidente, promulgando o Ex Oriens Umbra e o Ex Occidens Lux!

3.ª) A Iniciação dos Kadosh, Kadoshim, Kodesh – Graus 19 a 30, posto que os Kadosh são os realizadores dos Supremos Ritos, são quem alimentam e fazem mover de Norte a Sul e de Oriente a Ocidente a Ciência Teúrgica da Merkabah, o “Carro” ou “Corpo de Deus”.

4.ª) Os componentes dos Grandes Conselhos – Graus 30 a 33. Em determinadas Ordens o Grau 33 cabe ao Ser mais elevado em evolução. Só pode ocupá-lo o Rei dos Reis, Melki-Tsedek, Rei de Salém (Shamballah) e Sacerdote do Altíssimo (Logos), ou quem as suas vezes fizer, naturalmente, devidamente investido para tanto pela regularidade da Iniciação Maçónica.

A alínea 1.ª tem a confirmação na pessoa de Zadock, 1.º Grão-Sacerdote do Templo de Salomão, coevo deste Rei Sábio e do seu Arquitecto Iluminado, Hiram Abiff. Zadock, nome hebraico cujo significado é o mesmo de Kadosh, instituíra no Grande Templo o culto monoteísta do Deus Único e Verdadeiro expresso no Astro Rei (herança do Atonismo de Akenaton trazido do Egipto pelos hebreus aquando do Êxodo), o qual solta o seu “Raio Solitário” de Vida pelo planeta rei ou maior do Sistema que é Júpiter, oculto na palavra cabalística Jeohvah, “expressão bioplástica do Homem Cósmico”. E a Teurgia dos Salmos de David, pai de Salomão, fez-se ouvir no Templo, este a “expressão estática do mesmo Homem Cósmico”, e talvez mais que todos o Salmo 104: “Constituiu-o Senhor da sua Casa, e por Príncipe de tudo o que possuía; para que desse Luz aos seus grandes como a si mesmo, e ensinasse a Prudência aos seus anciãos”.

Como Grão-Sacerdote, Zadock iniciou uma linhagem bem sua, a dos Zadokitas que inicialmente eram só 12 escolhidos ou eleitos, por seus dotes de inteligência e virtude, para assessorá-lo na “Casa do Senhor Israel” (isto é, IshwaraIsh-Ra-Elli – como Logos Supremo ou a “Realeza de Ísis” – Ísis-Ra-El) em seus divinos ofícios, logo, eram os primitivos Kadoshs ou os do período bíblico. São os mesmos “Grandes Iluminados e Sábios Prudentes” do supracitado Salmo 104, que é o de apelo ao respeito aos bons Sacerdotes e a todos os que possuem o Dom Divino – Louvai o Senhor, invocando Seu Nome

Tamanha era a importância dos Zadokitas ou “Sacerdotes Eleitos” de toda a Israel, como Kadosh ou “Santos Sacerdotes e Sábios Instrutores”, que logo ocuparam o lugar primaz da mesma, e em quem todos reconheciam os méritos do Espírito Santo (Shekinah). Disto mesmo dá notícia a Regra Messiânica, texto inserto nos Manuscritos do Mar Morto, a qual foi traduzida em 1955 por D. Barthélemy no DJD, I (Oxford, 1955, pp. 107-108): “Esta é a regra para toda a congregação de Israel nos últimos dias, quando se juntarem [Comunidade para cami]nhar segundo a lei dos filhos (espirituais) de Sadoc (ou Zadock), os Sacerdotes, e dos homens da sua Aliança que se afastaram [do] caminho do povo, os homens do Seu Conselho que mantêm a Sua Aliança no meio da iniquidade (ou sejam, os Justos, Tsedek), oferecendo a expiação [para a Terra]”. E noutra parte: “Todos os sá[bios] da congregação, os instruídos e os inteligentes, homens cujo caminho é perfeito e homens de talento, juntamente com os chefes das tribos e todos os juízes magistrados, e os chefes do Mil [Cem,], II Cinquenta e Dez, e os leviatas, cada homem na [cla]sse do seu dever; estes são os homens de renome, os membros da assembleia convocada para o Conselho da Comunidade em Israel diante dos filhos de Sadoc, os Sacerdotes”.

De maneira que, como “Cabeça de Tibes” ou Tríade Suprema do Templo de Milich-Ha-Shaddai ou Io-Ur-Shalem (que é Jerusalém, sim, mas como expressão externa da Salém interna, a mesmíssima Shamballah ou a Mensão eterna de Melki-Tsedek, o Supremo Senhor do Mundo detentor do Báculo Celeste e da Espada Flamejante, representativos dos Poderes Espiritual e Temporal, do Altar e do Trono, enfim, da Pax et Lex, o que lhe confere a prerrogativa de Mikael Quis Ut Deus – o Arcanjo Guardião do Templo de Israel e sua Religião), há 12 Kadosh, repartidos em 3 grupos de 4 montando-lhe guarda ou formando “círculo de resistência”, donde se tem:

É assim que, essencialmente, o Grão-Eleito Cavaleiro Kadosh é o Ministro, o Sacerdote ou Goro do Rei do Mundo, cuja Missão Iniciática de trazer o Oriente da Tradição ao Ocidente Primordial, não deixa de estar prescrita a dado passo na Excelsa Yoga de Akbel, onde diz: – Vibramos intensa e harmonicamente, agora, com o Céu, a Terra e o Interior Lugar dos Deuses. Tal como representamos o Potentado do Ocidente, também ligados estamos ao Principado do Oriente, pelo Omphalo ou Centro do Mundo – Shamballah!

Logo a Chamada de Deus, no Ritual do Odissonai, adianta: – Ó At-Ha-Kadosh, Ancião dos Dias, Espírito das Idades, Condutor da Merkabah de Ouro na Ronda dos Tempos, Melkitsedek é vosso Corpo, e Shekinah, três vezes Santa Luz, é vossa Alma, enviada desde Salém, Shamballah, ao Homem deste Tempo, o Novo Salomão deste vosso Templo do Grande Ocidente. Ex Occidens Lux!

Este 30.º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito é o 24.º do Rito de Perfeição, criado em 1758. Sendo de grande importância no Mundo Maçónico Ibero-Europeu, todavia para os Supremos Conselhos dos Estados Unidos da América ele é um daqueles que se confere por simples comunicação, o que constitui um grasso erro humano e maior ainda grasso erro espiritual, por impossibilitar o usufruto pleno do Poder do Grau que só a transmissão iniciática pode facultar, pois que este mesmo implica obrigatoriamente um Ritual de Iniciação específico, como aliás está prescrito na própria Legislação Maçónica.

Ao encontro destas minhas palavras vêm as de José Castellani e Cláudio R. Buono Ferreira (in Manual Heráldico do Rito Escocês Antigo e AceitoDo 19.º ao 33.º, Madras Editora, São Paulo, 1997, p. 45), quando dizem:

“Como a palavra Kadosh significa “santo”, “sagrado”, purificado”, o Cavaleiro Kadosh é o verdadeiro Eleito, o Homem por excelência, purificado e limpo de todas as máculas. Trata-se, assim, do Grau máximo da Escala Iniciática, já que os posteriores são considerados administrativos. Por isso, a sua Iniciação completa é tripla, compreendendo a do Grau do Ilustre Cavaleiro do Templo, o de Cavaleiro da Águia Branca e Negra e a do Grande Eleito, simbolizando, dessa maneira, o tríplice aspecto de causa, meio e efeito, essencial a toda a escala do Rito. Depois de adestrado no seu Mestrado e plenamente integrado no Mundo Cósmico, ele pode se entregar à meditação e à acção interior, comunicando, aos outros futuros Eleitos, os caminhos da Razão, da Sabedoria e do Amor.”

Com efeito, sendo este o último Grau Filosófico, presume-se que, em princípio, o Maçom ao alcançá-lo seja um Espírito Eleito ou Sancionado, o que tem a ver com a palavra Santo, como tal encontra-se Purificado (Kadosh) e logo, por sua mente e coração iluminados, naturalmente considerará os trabalhos maçónicos sobretudo coisa divina que, em verdade e essência, o são.

De maneira expressa o Bhante-Jaul (do sânscrito Bhante, “Venerável Mestre”, literalmente como saudação, significando também “Mestre, Senhor, Irmão”, e Jaul ou Yaul, “Iluminado, Purificado, Pureza”), por seu sentido de Pureza afim ao Kadosh, é o Puro (Katter, donde Cátaro, em provençal, donde saíram os nomes portugueses Catarina e Costo ou Costa), é o casto, ainda que acaso não seja obrigatoriamente celibatário. De maneira que não se deverá confundir castidade com celibato. Aquela é uma disposição essencialmente interior, e este sobretudo exterior. Um celibatário pode ser um pecador mas um casto, não. Por não saber ou não querer separar uma da outra condição, é que a política social da Igreja tem querido importar a uma sociedade secular de interesses multivariados as regras próprias do bom funcionamento mosteiral, isto é, pretendendo transformar a sociedade humana num imenso espaço monástico com regras confessionais estritas sujeitas à sanção do eclesiástico, sem mais nem menos, o que só pode redundar em fracasso e consequente desmoralização da moral rígida rejeitada a-priori pelo colectivo social. Ainda sobre a hibridez auto-infligida do celibato, adaptação espúria daquela lenda hagiográfica do “cinto de castidade” (cingulum castu) dado a Tomás de Aquino por dois Anjos, tal voto eclesial mas não sacramental fez de quem o pratica um estéril ante as palavras da Escritura Sagrada: “Amai-vos e multiplicai-vos”. Se no Dicionário da Língua Portuguesa celibato (caelibatu) “é o estado de solteirão que não pretende casar-se”, de maneira alguma, ao contrário do que pensa a maioria, ele é sinónimo de castidade, porque um casto poderá não ser um celibatário, tal como um celibatário nem sempre é um casto. A castidade não implica obrigatoriamente a inibição física, sexual, mas implica sempre o regramento das acções, das emoções e dos pensamentos manifestados conscientemente como o melhor, o mais positivo que o homem tem, e é este o sentido da palavra casto (castu) no Dicionário da Língua Portuguesa: “puro, inocente, sem mescla”. Assim, o casto se faz na Terra um Agnus Castu ou “Cordeiro Inocente” que “tira (pelo exemplo que infunde) os pecados (karma) do mundo”, e nessa condição produtiva, verdadeiramente espiritual, faz-se um celícola ou “habitante do Céu” nesta mesma Terra. Este é, afinal, o estado de ser do verdadeiro Mestre e do verdadeiro Discípulo, acaso celibatários em momentos predeterminados, certamente sempre castos em todos os momentos, isto é, verdadeiros Agnus Castus à imagem e semelhança do Maior de todos os Kadosh, o Cristo Universal, assim como de todos os Avataras, Messiah (Messias) ou o mesmo Espírito de Verdade que a este mundo já adveio desde os paramos celestiais do Segundo Trono de Deus.

Sendo o 30.º Grau o da Grande Eleição (sobretudo espiritual, já se vê), ela está espelhada no planeta regente do Kadosh, ou seja, Júpiter (Tsedek, em hebreu, “Justo”), cujo aspecto inferior é Saturno e cujo movimento contrário de ambos veio a originar a Swástika védica (em português, Suástica), simbolizando precisamente a Divindade em Acção:

Essa conjunção do 1.º e 7.º planetas do nosso Sistema de Evolução Universal (Júpiter e Saturno) leva de nome, em aghartino, ASGA-LAXA, Asga-Lacha, Asga-Vatza ou Asga-Ladack, e tem precisamente o significado de “ESPLENDOR DO CÉU”, cujo símbolo representa o Movimento sobre e sob a Terra, portanto, a acção do Pramantha ou Cruzeiro Locomovedor da Evolução do Ciclo em manifestação no Segundo e Terceiro Tronos, no Céu e na Terra, sob o impulso do Imanifestado, o Primeiro Trono.

Júpiter expressa a Geração relativa ao Segundo Trono, a Geração Espiritual ou a do ponto de vista mais elevado. Daí a expressão do Professor Henrique José de Souza: “O Tetragramaton como expressão ideoplástica do Homem Cósmico, que é JEHOVAH, JOVE, JÚPITER”…

Saturno expressa tudo quanto tem a ver com o Seio da Terra, o Terceiro Trono. Daí as expressões SABAOTH, SABATH, SÁBADO, SATURNINAS, SATURNO…

Juntando Júpiter e Saturno tem-se a palavra ASGA-LAXA, “Senhor do Governo dos Dois Mundos”, o Celeste e o Terrestre, o que vale por MELKI-TSEDEK ou CHAKRA-VARTI na Terra, mas que sendo ASGA-LAXA no Céu, é AKBEL!

De maneira que para Júpiter e Saturno o Grau Kadosh atribuiu-lhes os símbolos respectivos da Águia e da Escada d’Ouro, sobre o que diz René Guénon (in O Esoterismo de Dante, Editora Vega, Lisboa, 1978, pp. 31-32):

“Quanto aos dois outros símbolos, é impossível não reconhecer aí os do “Kadosch Templário”; e, ao mesmo tempo, a águia, que a Antiguidade clássica atribuía já a Júpiter, como os Hindus a atribuem a Vishnu, era o emblema do antigo Império Romano (o que nos lembra a presença de Trajano sob o olho desta ave), e permaneceu como o do Santo Império. O céu de Júpiter é o lugar dos “príncipes sábios e justos”, Diligete justitiam, qui judicatis terram (Paradiso, XVIII, 91-93), correspondência que, como todas as que Dante dá para os outros céus, se explica inteiramente por razões astrológicas; e o nome hebraico do planeta Júpiter é Tsedek, que significa “justo”. Quanto à “escada dos Kadosch”, já falámos dela: estando a esfera de Saturno imediatamente acima da de Júpiter (na escala da Involução ou “Descida do Espírito à Matéria” como Pravritti-Marga, direi eu), chega-se ao pé dessa escada pela Justiça (Tsedakah) e ao seu cimo pela Fé (Emounah). Este símbolo da escada parece ser de origem caldaica e ter sido trazido para o Ocidente juntamente com os Mistérios de Mitra; havia então sete degraus, sendo cada um deles formado por um metal diferente, segundo a correspondência dos metais com os planetas; por outro lado, sabe-se que no simbolismo bíblico se encontra igualmente a escada de Jacob, que, unindo a Terra aos Céus, apresenta significação idêntica.”

Com efeito, a escada dupla do Kadosh (Involução e Evolução, Pravritti e Nivritti Margas) permite a elevação gradual do homem até chegar à comunhão espiritual com o Céu (Júpiter), depois de ter descendido e cumprido a experimentação terrestre (Saturno). Os sete degraus ou Planos necessários a essa elevação representam-se simbolicamente de um lado, o esquerdo, pelas sete Artes liberais da Idade Média, e do outro pelas Virtudes teologais às quais se chega por intermédio daquelas Artes ou Ciências.

Os degraus da esquerda são, de baixo para cima, representativos da Gramática, da Retórica, da Lógica, da Aritmética, da Geometria, da Música e da Astronomia. Os da direita são, de baixo para cima, em hebraico: Tsedakah (Justiça), Schor Laban (Boi Branco = O Espírito em busca da Verdade, Pureza), Mathok (Doçura), Emounah (Fé), Amal Saghi (Grande Obra), Sabbal (Penitência, paciência), Gemoul-Binah-Themounah (Recompensa-Compreensão-Inteligência). A escada da esquerda é Oheb Kerobo (“Quem ama ao próximo”), e a da direita é Oheb Eloha (“Quem ama a Deus”).

É novamente René Guénon (in Os Símbolos da Ciência Sagrada, Editora “Pensamento”, São Paulo, 1993, pp. 294-296) a proferir-se sobre o simbolismo da escada, sendo meus os comentários entreparêntesis:

“Essa significação é evidente no simbolismo bíblico da escada de Jacob, pela qual os Anjos descem e sobem (Mónadas Patentes e Mónadas Potentes). E sabemos que Jacob, no local em que teve a visão dessa escada, colocou uma pedra (chamada Lusa) que “erigiu como um pilar”, que também era uma figura do “Eixo do Mundo”, substituindo assim, de certo modo, a própria escada. Os Anjos representam propriamente os estados superiores do Ser; portanto, a eles correspondem também, mais em particular, os degraus, o que pode ser explicado pelo facto de se considerar a escada com os seus pés assentes sobre a terra, ou seja, o que para nós é necessariamente o nosso próprio Mundo, indo constituir o “suporte” a partir do qual a ascensão deve efectuar-se. Mesmo supondo que a escada se prolongue subterraneamente (atentem ao espírito destas palavras, Kadosh de símbolo ou virtuais mas que acaso pretendam ser reais!), para compreender a totalidade dos Mundos como deve ser na realidade, a sua parte inferior seria em todo o caso invisível (ou oculta), tal como ocorre com os seres que alcançaram uma “caverna” situada em certo nível, como parte central da Árvore que se estende atrás dela. Em outros termos, tendo já percorrido os degraus inferiores, não cabe mais considerá-los de facto no que diz respeito à realização posterior do Ser, no qual só poderá intervir o percurso dos degraus superiores.

“É por isso que, sobretudo quando a escada é empregada como um elemento de certos ritos iniciáticos, os seus degraus são expressamente considerados como representação dos diferentes céus, isto é, dos estados superiores do Ser. É assim que, em particular nos Mistérios de Mitra, a escada tinha sete degraus, relacionados aos sete planetas, e que, diz-se, eram feitos com os metais correspondentes a cada um desses planetas; o percurso desses degraus representava os graus sucessivos da Iniciação. A escada de sete degraus encontra-se em certas organizações iniciáticas da Idade Média, de onde passou sem dúvida, de forma mais ou menos directa, para os Altos Graus da Maçonaria Escocesa, tal como dissemos em outra oportunidade a propósito de Dante. Nesse caso, os degraus são relacionados às “ciências”, mas isso, no fundo, não faz qualquer diferença, pois, segundo o próprio Dante, as “ciências” identificam-se aos “céus” (in Convito, t. II, cap. XIV). É evidente que para corresponder desse modo aos estados superiores e aos graus da Iniciação, essas ciências só podiam ser as tradicionais, entendidas no seu sentido mais profundo e propriamente esotérico, inclusive aquelas ciências cujos nomes, para os modernos e em virtude da degradação que temos citado repetidamente, designam apenas ciências ou artes profanas, isto é, alguma coisa que, em relação às verdadeiras ciências, na realidade não passa de uma casca vazia e um “resíduo” sem vida.

“Em certos casos, encontra-se também o símbolo de uma escada dupla, o que implica a ideia de que a subida deve ser seguida de uma nova descida; sobe-se então, de um lado, pelos degraus que são as “ciências”, isto é, por graus de conhecimento que correspondem à realização de outros tantos estados, e torna-se a descer, de outro lado, pelos degraus que são as “virtudes”, ou seja, os frutos desses mesmos graus de conhecimento aplicados aos seus respectivos níveis (isto ao nível humano, em que o Iniciado adquire a Ciência Divina e dela desce possuído das respectivas virtudes a comunicá-las aos seus confrades de Ordem, ou seja, já como Iniciador; ao nível espiritual, desce como Mónada inconsciente à Terra e sobe como Mónada consciente ao Céu. Portanto, ambas as formas de descida e subida ou subida e descida, estão correctas no Ritual do Grau, ainda que aquela ao nível humano seja a mais própria). Pode-se além disso notar que, mesmo no caso da escada simples, um dos montantes pode ser considerado de certa forma como “ascendente” e o outro como “descendente”, de acordo com a significação geral das duas Correntes Cósmicas (que são Prakriti, a Matéria correspondente ao descenso, e Purusha, o Espírito relacionado ao ascenso), da direita e da esquerda, às quais correspondem os dois montantes em razão da sua própria situação “lateral” em relação ao verdadeiro eixo (o Eixo do Mundo, Áxis Mundi, representado no Equador, e no Rito pela própria Águia “Kadosh” que figura sobre a Escada, por vezes sendo figurada por uma Serpente Alada que, assim, irá indicar o Grão-Eleito como o sendo de facto, isto é, tendo despertado interiormente o Fogo Criador do Espírito Santo – Kundalini – e se evolado como Anjo Alado ao mais alto Céu, para depois volver ao limbo da Terra por amor, piedade a seus Irmãos ainda em “trevas”…) que, embora invisível, nem por isso deixa de ser o elemento principal do símbolo, ao qual todas partes sempre devem ser referidas se quisermos compreender inteiramente o seu significado.”

Sendo este Grau considerado de vingança contra o Papa e o Rei (Clemente V e Filipe IV) que sentenciaram à morte os antigos Templários e principalmente o seu Grão-Kadosh ou Mestre Jacques Borgomundus de Molay, ele é assim entendido ordinariamente por maçons e profanos. Com esse aspecto exterior terão a ver o sinal, a palavra de passe e a palavra sagrada do 30.º Grau, ou sejam: pés em esquadria e mãos levantadas sobre a cabeça, com os dedos juntos excepto os polegares, formando um triângulo com o crânio ao centro (outro símbolo do Grau, representativo da Morte, da Imortalidade e da Sabedoria necessária para alcançar essa mesma Imortalidade), enquanto pronuncia a palavra sagrada – Nekam Adonai, “Vingança, Senhor”. Já a palavra de passe, usada como resposta na entrada dos Cavaleiros Kadosh, é Nekam Menachem – “Vingança Consoladora” (cf. 2 Reis, 15:14-22).

Mas, em verdade, a vingança será a do Kadosh sobre si mesmo, a de matar o seu “eu inferior”, ou melhor, alinhá-lo, integrá-lo ao “Eu Superior”, ao mesmo tempo que ajuda na transformação social e espiritual do mundo (o que é alegorizado pelo Rei e o Papa), levando assim à transformação do seu Karma em Dharma e à consequente integração colectiva no “Eu Universal”, o que é Paradharma, destarte ajudando o Homem a tornar-se mais Homem e Deus mais Deus, colaborando na integração Deste em níveis de Vida e Consciência que até para o maior da Humanidade são simplesmente inconcebíveis, mas que não deixam de ser Mahaparadharma, sim, o “Grande Dever Universal” em cumprimento.

Com isso, o Kadosh «vinga-se» de si mesmo, das Tragédias passadas que ele e parte dos do seu nível provocaram, queimando de vez o Karma, o “Débito” contraído, e ao mesmo tempo «vinga-se» e «assassina» as instituições profanas assassinas de quanto seja verdadeiramente Espiritual, logo, Iniciático, quer dizer, transforma-as por dentro. E isto foi o que o Rei D. Dinis fez em Portugal, ao vingar a Ordem do Templo assassinada criminosamente pelos Poderes Sacerdotal e Real corrompidos, por via da criação da Ordem Militar de Nosso-Senhor Jesus Cristo, que viria a transformar Portugal, a Europa e o Mundo de maneira irredutível na Marcha do Progresso Humano e Espiritual durante a Gesta Henriquina desse 13.º Grão-Kadosh que foi o Infante Henrique de Sagres (I ou JHS).

Portanto, o sentido de vingança subjacente ao 30.º Grau não se reduz, nem tampouco tem sentido, à vingança pelo assassínio dos Templários medievais e ao contínuo ataque exacerbado às instituições e religiões oficiais. Quem disso partilha nada sabe de Maçonaria e certamente ignora essas expressivas palavras de José Castellani e Cláudio R. Buono Ferreira (in ob. cit.): “Embora o Grau esteja associado à vingança, esta não é, na realidade, física, mas, sim, a da Verdade contra o erro, a do Amor contra o ódio, o do Espírito contra a matéria, seguindo a rota da Alquimia Mística, presente em Graus anteriores. O crânio atravessado pela espada é a representação gráfica dessa vingança”.

Ou como diria Fernando Pessoa no seu Bilhete de Identidade, escrito por ele próprio em Lisboa, em 30 de Março de 1935: “Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, Grão-Mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos – a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania”.

O que se revela no tríplice Tau:

Quanto à indumentária prescrita para o Cavaleiro Kadosh, ele usa faixa e avental (este é actualmente pouco usado nas Lojas do Grau), tendo na faixa inscritas as iniciais “C.K.S.” que significam, obviamente, “Cavaleiro KadoSh”; também são usadas as iniciais “C.K.H.” – “Conselho Kadosh de Heredom” (em alusão ao Rito de Heredom, origem dos Altos Graus). No avental negro, debruado de branco, está inserida a vermelho uma Cruz Teutónica tendo no centro o número 30.

Segundo as antigas instruções, o Presidente da Oficina ou Loja – “Grande Venerável Sábio Mestre” – usava uma túnica negra, aberta lateralmente, em forma de dalmática, bordada de branco; os Rituais modernos aboliram essa vestimenta, recomendando o uso de smoking ou terno preto, o que do ponto de vista tradicional afecta ou lesa no geral a antiguidade coreográfica do Grau. Além disso, o Presidente trazia, na cintura, o principal objecto do Kadosh: um punhal, com cabo de marfim e de ébano. Mais que tendo o sentido de ferir vingativamente, o punhal ou adaga reporta-se aqui ao sentido primaz do Grau: o de Eixo do Mundo Maçónico e, consequentemente, do Centro Místico do Kadosh, o Coração, devendo a lâmina feri-lo e aos outros, figurativamente, isto é, o Verbo ou Palavra certeira do Eleito dirigida ao coração do próximo, perfurando, abrindo, iluminando a sua Alma pelo sopro suave do Amor e da Sabedoria.

Diversos autores tradicionalistas, como Nicolas Flamel, identificam a adaga, como miniatura da espada, à Pedra Filosofal, e não apenas ao caminho para ela, pelo que o simbolismo da “Caliburna” ou “Excalibur” cravada na rocha pura equivale à posse da própria Pedra Filosofal. Isso identifica-se à descrição no texto sagrado onde a espada é comparada ao “Logos”, “o Verbo Divino mais penetrante que uma espada de dois gumes” (um que premeia e outro que castiga). – Cf. Bíblia, Hebreus, 4, 12. Flamel, no seu Livre des Figures Hieroglyphiques (obra do século XIV. Reedição Denoel, Paris, 1970), adianta sobre a sua prerrogativa espatária: “Esta espada nua, esplendorosa, é a Pedra ao Branco, tantas vezes descrita pelos Filósofos sob esta forma”. Para o Kadosh, ela é não só o instrumento de purificação como a expressão da própria Perfeição atingida. É a Pedra Branca, objectivo supremo da Filosofia Hermética.

Tal Pedra Branca a apontei a Venerável Irmão, já partido para as plagas dos Deuses, em pleno centro altaneiro de São Lourenço de Minas Gerais do Sul, Brasil, adiantando ser a Espada Flamígera aí figurada a mesma dos Assuras, Arqueus ou Tributários do Eterno Melki-Tsedek!… Como instrumento de purificação a espada equivale ao chamado “Fogo dos Filósofos”, e assim é encontrada assinalada pelo abade Dom Pernety, do século XVIII, no seu Dictionaire Mytho-Hermétique (redição Denoel, Paris, 1972): “Espada: é o Fogo dos Filósofos, bem como a lança, etc.”. Ora o Fogo dos Filósofos é o Fogo Primordial como Hálito do Eterno no acto primaz da Criação, logo, sendo Purificador e Regenerador, antes, Transformador e Superador por excelência. E este é o elemento natural do Templário Kadosh.

Fernando Pessoa também mostrava um interesse todo especial por este 30.º Grau da Maçonaria, tanto que referindo-se ao Ritual de Iniciação, em documento do seu espólio (54 A-53), lê-se: “Temos espadas porque somos cavaleiros, vestes de rito porque somos sacerdotes, capuzes de velar porque somos ocultos (homens)”. Homens Ocultos ou Encobertos são os Adeptos Perfeitos, Homens Representativos ou Kadosh, no sentido de “Consagrados” à Obra do Eterno na Face da Terra.

Além disso, como uma outra prova da afeição esotérica de Fernando Pessoa a este Grau, possuindo ele um exemplar (que até há pouco se encontrava na casa de sua irmã, em Cascais) da obra de A. E. Waite, Emblematic Freemasonry (Londres, 1925), sublinhou uma nota (na página 208) onde é dita que “a espada e o punhal são símbolos da Sabedoria e da Inteligência, no Ritual maçónico do Cavaleiro Kadosh”. De facto, a espada, mesmo para o “vulgar” iniciado maçom, significa tanto a Honra (do Cavaleiro) como a Sabedoria (do Santo). E por isso ela, a espada (em hebraico mizla, “espada flamígera”), depois superada em distinção pelo punhal (em grego athamé, em pali purbha, ambos com o significado igual de “língua de fogo”), é a alfaia natural do Templário Kadosh.

De maneira que não se trata de brincar aos «rituais martinistas» andando cada um encapuçado como «incógnito misterioso», mesmo que todos os participes conheçam-se entre si, numa degradada expressão de paródia da verdadeira Iniciação, como se tem visto em certas magias psíquicas embrulhadas na aparência de maçonismo, as quais parecem dar sempre os piores e mais dramáticos resultados…

Isso traz-me à memória a obra magistral de Miguel de Cervantes, D. Quixote de la Mancha, sátira social ao espírito decadente da antiga Cavalaria, na qual o “cavaleiro da triste figura” transporta rídiculo e alucinado ao presente o que só houve no passado, acabando por indistinguir os dois tempos, apesar de Sancho Pança, a sua boa consciência, o ir aconselhando o melhor que podia, tentando trazê-lo à razão. Eis o retrato actual do ambiente psicossocial das inúmeras seitas templistas. Por isto, o Dr. Mário Roso de Luna tinha inteira razão quando proferiu: “Ainda que seja Jina a Literatura Cavaleiresca, não deixa de ser perigoso para alguns meninos lerem livros de Cavalaria, sim, porque os tomam à letra, confundem-se e provocam os maiores desvarios”…

Respeitante à indumentária, O Presidente da Loja Kadosh levava na cabeça um chapéu negro desabado, porém, tendo na frente a aba levantada, servindo-lhe de presilha um Sol de prata, raiado de ouro, colocado entre as letras “N” e “A” (Nekam Adonai), e tendo no centro um olho. É simbolismo todo a ver com o baphometh Templário, isto é, o crânio iluminado pela Sabedoria de quem é reservatório, o que corresponde aos Chakras Coronal (Chapéu) e Frontal (Sol), tal como a adaga associa-se ao despertar dos “Centros Vitais” Laríngeo (Palavras do Grau) e Cardíaco (Punhal).

Os Oficiais do Conselho usam um colar negro chamalotado, orlado de prata, tendo bordada em púrpura, no vértice, uma águia bicéfala (alusiva no Homem à União Real – donde Raja-Yoga – da Alma com o Espírito, e em Deus o Pai e a Mãe Cósmicos, portanto, o estado de Perfeito Equilíbrio ou do Andrógino Primordial), segurando um punhal nas garras; esta águia tem, de cada lado, uma Cruz Teutónica púrpura (alusiva a Santa Maria dos Teutões ou Alemães, cuja Ordem viria a criar o Sacro Império Germânico destinado, em princípio, à implantação da Sinarquia no Norte e Centro da Europa, sob a direcção dos Kadosh Teutónicos sobreviventes da extinção sangrenta da Ordem do Templo). A jóia suspensa pelo colar é uma águia bicéfala de prata, com as asas abertas, segurando um punhal nas garras e realçada sobre uma Cruz Teutónica de esmalte vermelho.

Os Cavaleiros trazem uma faixa negra, com franja de prata, a tiracolo, da esquerda para a direita, cores expressivas do seu título que neste Grau encontra a plena legitimidade: “Filhos da Viúva”. Na face anterior estarão, pintadas ou bordadas de vermelho, duas Cruzes Teutónicas, além de uma águia bicéfala coroada e das iniciais “C.K.H.”, cujo significado já dei. De acordo com as antigas instruções, também usavam uma faixa vermelha à cintura com um punhal suspenso (à maneira dos antigos Assacis libaneses que andaram de relações íntimas com os Templários) e o chapéu negro desabado, tendo na frente a aba levantada e presa pelo Sol prateado já descrito. Isso, todavia, já não consta das modernas instruções, o que é muito lastimável por se ter imposto, certamente por preconceitos, uma indumentária profana à original francamente iniciática, o que reflecte e induz ter-se perdido ou esquecido o sentido primaz do Templo: lugar apartado de todas as afectações profanas, como espaço de verdadeira Realização, pessoal e colectiva.

A jóia suspensa da faixa a tiracolo, é um punhal de folha de aço e cabo ovalado, metade de marfim e metade de ébano (materiais do Líbano, o que reporta uma vez mais para o “Velho da Montanha”, Sheik Al-Djabal, “O Senhor Todo-Poderoso”, e os seus Cavaleiros Assacis, de quem parte dos Drusos são hoje herdeiros espirituais). A administração do Conselho Kadosh usará, além dessa faixa, uma outra faixa abdominal, orlada de prata, o que de certo modo vai substituir o avental.

Actualmente, os trabalhos desenvolvem-se em apenas duas Câmaras: a Câmara Vermelha, destinada à recepção, ou seja a Iniciação, e a Câmara Negra, destinada aos Oficiais do Conselho: Comendador ou Grão-Mestre (Eminentíssimo), Prior e Preceptor (Eminentes), representando precisamente (apesar de hoje se ignorar quase na totalidade) o MANU, o BODHISATTVA e o MAHACHOAN, e numa escala mais acima as TRÊS BRUMAS CELESTES ou SÓIS MERCURIANOS.

A Verdade apresenta-se, enfim, como toda a Lei Universal, através da Polaridade. Sempre existiram dois Sectores na orientação do Mundo: um tipo TEMPLÁRIO (expresso em Ordens Iniciáticas), mantenedor do Eu Interno de cada um; mantém a Fé, que será iluminada pelo Conhecimento, senão transforma-se em religiosismo, em crença, fanatismo… por falta dos esclarecimentos necessários. O outro Sector é tipo MAÇÓNICO, realiza-se através das Ordens Ocultas, das Sociedades Secretas, as quais prestam cobertura ao primeiro Sector. Sociedade Secreta porque não ensina tudo o que sabe ou, por outras palavras, só ministra os conhecimentos àqueles que estão preparados para recebê-los. No Cristianismo, por exemplo, há o aspecto clerical que começou com Pedro, e há as Ordens conhecidas de todos, fazendo a cobertura política, a manutenção… Mas tudo evolui, logo, vão assumindo outros aspectos, conforme o desenvolvimento das concepções humanas.

Nas tradições transhimalaias, aponta-se: o REI DO MUNDO com as suas Duas Colunas, são os Supremos Orientadores da MAÇONARIA DOS TRAIXUS-MARUTAS, estes que são os mantenedores universais do CULTO DE MELKI-TSEDEK.

Com a destra voltada para o Céu e o polegar invertido para a Terra, contrariamente a quantas saudações caóticas foram instituídas pelas decadentes ideologias do velho Ciclo declinado, maiores homenagens se devem prestar ao mais Digno e Excelso de Todos os Construtores:

– O SUPREMO ARQUITECTO DO UNIVERSO!

Sim, ao AT-HA-KADOSH ou “SANTÍSSIMO” como “SANTO DOS SANTOS”!

SAÚDO, FINALMENTE, OS KADOSH, KODESH, KADESHIM,

REALIZADORES DAS SUPREMAS INICIAÇÕES,

DOS MAIS ELEVADOS RITUAIS!

BIJAM

OBRAS CONSULTADAS

Vitor Manuel Adrião, Dogma e Ritual da Igreja e da Maçonaria. Editora Dinapress, Setembro de 2002, Lisboa.

Vitor Manuel Adrião, História Secreta do Brasil (Flos Sanctorum Brasiliae). Madras Editora, 2004, São Paulo.

Comunidade Teúrgica Portuguesa, O Mistério dos Traixus-Marutas, Apostilas n.os 96 e 97, Série Integração.

Sebastião Vieira Vidal, Série Q. S. G. e Série Revolução Francesa e Ciclos da Obra.

Yvett K. Centeno, “Episódios/A Múmia”: Um poema-chave para o estudo do hermetismo em Fernando Pessoa. In Persona 1, publicação do Centro de Estudos Pessoanos – Faculdade de Letras do Porto. Porto, Novembro, 1977.

Orlando Soares da Costa, Maçonaria Adonhiramita – Iniciação Real, vol. III. Editora Europa, 1999, Rio de Janeiro.

Orlando Soares da Costa, Maçonaria Adonhiramita – História dos Mistérios e da Evolução da Consciência Humana, vol. IV. Editora Europa, 1999, Rio de Janeiro.

Geza Vermes, Manuscritos do Mar Morto, 2.ª edição. Ésquilo Edições e Multimédia, Lda, Agosto 2006, Lisboa.

René Guénon, O Esoterismo de Dante. Editora Vega, Abril de 1978, Lisboa.

René Guénon, Os Símbolos da Ciência Sagrada. Editora Pensamento, 1993, São Paulo.

Crata Repoa ou Iniciações aos Antigos Mistérios dos Sacerdotes do Egipto. Traduzida do alemão por Ant. Bailleul, Paris, 5821. Edições Axis Mundi, 1989, Paris.

Jean Palou, A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática. Editora Pensamento, São Paulo.

Joaquim Gervásio de Figueiredo, Dicionário de Maçonaria. 2.ª edição, revista e ampliada, 1974, Editora Pensamento, São Paulo.

José Castellani e Cláudio R. Buono Ferreira, Manual Heráldico do Rito Escocês Antigo e Aceito (do 19.º ao 33.º). Madras Editora, 1997, São Paulo.

Rizardo da Camino, Kadosh (do 19.º ao 30.º). Madras Editora, 1998, São Paulo.

Rizardo da Camino, Rito Escocês Antigo e Aceito (1.º ao 33.º). Madras Editora, 1999, São Paulo.